terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Dica de livro: O náufrago, de Thomas Bernhard

Recomendo a leitura de “O Naufrago” de Thomas Bernhard (Cia. Das letras). Nesta obra, Bernhard conta a história de três amigos que se conheceram à época que estudaram piano no Mozarteum de Salzburgo. O narrador, um dos amigos, conta a história de Wertheimer que, principal promessa do piano nos corredores do Mozarteum, tem sua carreira e vida aniquilada após ouvir a interpretação dos primeiros compassos das variações Goldberg tocada por um jovem aluno canadense da classe de Horowitz, Glenn Gould – o terceiro amigo – futuro grande gênio do piano no Séc. XX. Partindo do recente suicídio de Wertheimer, ocorrido pouco após a morte natural de Gould, o narrador, em visita a moradia que Wertheimer habitou mais de vinte anos após desistir da carreira, vai traçando em seu pensamento – através de recurso literário genialmente explorado por Bernhard – recordando as circunstâncias que levaram ao naufrágio de Wertheimer. Obra que utiliza sem exageros ou despropósitos a figura de um grande gênio do piano, Glenn Gould, bem como é precisa em se utilizar de uma obra-prima como as variações Goldberg de Bach – “Compostas originalmente para o deleite da alma, quase duzentos e cinqüenta anos mais tarde, mataram um homem desesperado” – sem jamais dar a impressão de obra de referência ou grandiloqüente em suas citações. Eis aqui um livro para ser lido por todos os músicos, e não somente por estes já que o autor universaliza a problemática da auto-aniquilação, da busca pelos becos sem-saída, retratando as escolhas de um homem que, segundo o narrador, “já nasceu náufrago, foi desde sempre o náufrago”.

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